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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A Lenda do Saci Pererê no Vale do Rio Cricaré



Mata na região da Serra de Baixo, dentro da APA da Pedra do Elefante, município de Nova Venécia (ES). Em locais como este, onde a natureza domina em sua plenitude, talvez ainda seja possível perceber a presença de entidades como o Saci Pererê.
Foto: Rogério Frigerio Piva, 25/01/2009.


Saciiiii, Saciiiii, Saciiiii Saaa Pererê”!!! Dizem os antigos que esse é o som do piado do Saci, figura mitológica presente em todo território nacional e, em especial, nas terras banhadas pelo rio Cricaré, inclusive em Nova Venécia.


Não é difícil encontrar alguém que já tenha escutado o seu piado, ou mesmo, topado de frente com esse ser mitológico, transformado, por Monteiro Lobato, em um ícone do folclore brasileiro e que, representa uma síntese da brasilidade. Dizem ainda que o Saci, na verdade, seria o espírito do índio que vive nas matas e, se hoje é difícil encontrá-lo, é porque o seu habitat (as matas) também vem desaparecendo.


O relato sobre o Saci Pererê que aqui apresentamos, foi extraído pelo jornalista Maciel de Aguiar de um manuscrito, intitulado “Caderno de Folclore”, escrito por Lauro Santos*:


SACI PERERÊ


"O Saci Pererê diz que é virado de alma de bugre**. Diz que ele não é pessoa ruim não. É só a gente respeitar que eles não faz mal a ninguém. Quando a gente está viajando, que passa por lugares longe da gente, que vê ele assoviar, é só pedir a ele e dizer: Companheiro, me leva em casa. Ele vai levar a pessoa na porta de casa. Hora ele assovia do lado, outra hora pia na frente, hora pia para trás, dando que entender que ele vai acompanhando a pessoa. E se a gente não quiser que ele acompanha, quando ver ele piar pergunta quantos botões tem a casaca de Cristo, e ele some da vida da gente. Diz que ele é um molequinho, usa um chapéuzinho na cabeça e anda pulando com uma perna só. Só é levado se aborrecer ele, ele assombra a pessoa."


*Lauro Santos era descendente de escravos do Vale do Cricaré e foi entrevistado por Maciel de Aguiar entre Maio de 1980 e Julho de 1981. Foi cantador e contador de “causos”. Suas histórias, dizia ter ouvido na infância, “quando os pretos velhos reuniam os meninos pra contar causos da escravidão”.

**bugre é sinônimo de índio.

Fonte: AGUIAR, Maciel de. LAURO E ROSALVO: Cantadores e Tocadores. Série História dos Vencidos. Caderno 20. Editora Brasil-Cultura: Centro Cultural Porto de São Mateus: São Mateus, 1996. pp. 25-26.


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