“Saciiiii, Saciiiii, Saciiiii Saaa Pererê”!!! Dizem os antigos que esse é o som do piado do Saci, figura mitológica presente em todo território nacional e, em especial, nas terras banhadas pelo rio Cricaré, inclusive em Nova Venécia.
Não é difícil encontrar alguém que já tenha escutado o seu piado, ou mesmo, topado de frente com esse ser mitológico, transformado, por Monteiro Lobato, em um ícone do folclore brasileiro e que, representa uma síntese da brasilidade. Dizem ainda que o Saci, na verdade, seria o espírito do índio que vive nas matas e, se hoje é difícil encontrá-lo, é porque o seu habitat (as matas) também vem desaparecendo.
O relato sobre o Saci Pererê que aqui apresentamos, foi extraído pelo jornalista Maciel de Aguiar de um manuscrito, intitulado “Caderno de Folclore”, escrito por Lauro Santos*:
SACI PERERÊ
"O Saci Pererê diz que é virado de alma de bugre**. Diz que ele não é pessoa ruim não. É só a gente respeitar que eles não faz mal a ninguém. Quando a gente está viajando, que passa por lugares longe da gente, que vê ele assoviar, é só pedir a ele e dizer: Companheiro, me leva em casa. Ele vai levar a pessoa na porta de casa. Hora ele assovia do lado, outra hora pia na frente, hora pia para trás, dando que entender que ele vai acompanhando a pessoa. E se a gente não quiser que ele acompanha, quando ver ele piar pergunta quantos botões tem a casaca de Cristo, e ele some da vida da gente. Diz que ele é um molequinho, usa um chapéuzinho na cabeça e anda pulando com uma perna só. Só é levado se aborrecer ele, ele assombra a pessoa."
*Lauro Santos era descendente de escravos do Vale do Cricaré e foi entrevistado por Maciel de Aguiar entre Maio de 1980 e Julho de 1981. Foi cantador e contador de “causos”. Suas histórias, dizia ter ouvido na infância, “quando os pretos velhos reuniam os meninos pra contar causos da escravidão”.
**bugre é sinônimo de índio.
Fonte: AGUIAR, Maciel de. LAURO E ROSALVO: Cantadores e Tocadores. Série História dos Vencidos. Caderno 20. Editora Brasil-Cultura: Centro Cultural Porto de São Mateus: São Mateus, 1996. pp. 25-26.